terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Mais de um ano depois de o PT conter a tentativa do ex-tesoureiro Delúbio Soares de retornar aos quadros partidários, o presidente nacional da sigla, José Eduardo Dutra, admite a possibilidade de uma nova tentativa ocorrer neste ano.

'Não existe pena eterna', diz presidente do PT sobre Delúbio
P.A InDoOr
Crédito: AE
Dutra, presidente do PT
Dutra, presidente do PT
Andréia Sadi, iG Brasília
Mais de um ano depois de o PT conter a tentativa do ex-tesoureiro Delúbio Soares de retornar aos quadros partidários, o presidente nacional da sigla, José Eduardo Dutra, admite a possibilidade de uma nova tentativa ocorrer neste ano. Expulso no auge da crise do mensalão, Delúblio tentou se refiliar ao PT em 2009, mas acabou retirando o pedido diante das preocupações de dirigentes da sigla quanto a um possível abalo na campanha da hoje presidenta Dilma Rousseff.
Em entrevista ao iG, Dutra lembrou que, na época em que apresentou o pedido de refiliação, Delúbio deixou claro que poderia pedir sua volta ao partido em outro momento. "Se isso acontecer, o diretório vai analisar com tranquilidade até porque não existe pena eterna”, Dutra.
Na entrevista, o presidente do PT também  disse contar com uma atividade política intensa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a partir deste ano e descartou o surgimento de um quadro "pós-Lula" no partido. “Com certeza, ele não vai vestir o pijama”, afirmou Dutra, negando, no entanto, que se trate de trilhar o caminho para uma eventual volta de Lula na eleição de 2014. “Para mim, o cenário natural é a Dilma candidata à reeleição. A partir do momento que se instituiu o princípio da reeleição no Brasil, passa a ser quase que uma obrigação para quem está no cargo disputar a reeleição”, defendeu. Confira os principais trechos da entrevista de Dutra ao iG:
iG: Como é o PT pós-Lula?
José Eduardo Dutra: Do ponto de vista do PT, não cabe o pós-Lula. Porque o Lula está aí, vai voltar à atividade política, sempre disse que o PT e o Brasil não podiam prescindir de sua liderança e com certeza não vai vestir o pijama. Ele já disse isso publicamente e para nós do PT, durante reunião com Executiva no Planalto no final do ano passado, e ele reafirmou que estará à disposição do PT para fazer política. Já no próximo dia 10, teremos reunião do Diretório Nacional e depois faremos um ato festivo e concederemos o título de presidente da honra do PT. 

iG: Quem é o presidente de honra hoje do PT?
JD: Não tem. A única pessoa que já ocupou esse cargo foi o Lula. Ele deixou o posto quando virou presidente da República. Claro que Lula terá um papel diferenciado agora, é um ex-presidente e os ex-presidentes, em geral, são submetidos a uma certa liturgia da função. (...) O fato dele ter saído da Presidência com índice de aprovação inédita, -- 'nunca antes na História deste País' --, é lógico que o credenciou. Mas fortaleceu o PT também. Tanto é que nós elegemos a sucessora, que tem um perfil de diferente do Lula. Mas é uma militante do PT há mais de dez anos. Me causa até um certo estranhamento quando tentam caracterizar a Dilma como uma petista que chegou agora. Não é verdade, tem mais de dez anos de militância de PT e na esquerda brasileira. Nossa expectativa é positiva com futuro.

iG: Quando o senhor diz que o Lula não vai vestir o pijama, vai na linha do ministro Gilberto Carvalho, de que o ex-presidente é um ‘Pelé no banco de reserva’ e pode voltar em 2014? Lula volta?

JD: Quando digo que Lula não vai vestir o pijama não estou raciocinando em termos de Presidência da República. Ele está no auge da sua capacidade política e vai continuar sendo um agente importante dentro do PT, no Brasil e até no mundo. Não estou me referindo à hipótese de candidatura dele à Presidência. O cenário natural para mim é a Dilma candidata à reeleição. A partir do momento que se instituiu a reeleição no Brasil, passa a ser quase uma obrigação para o Executivo que está no cargo disputar a reeleição. Na verdade, a reeleição não deixa de ser uma forma de aferir o desempenho daquele governante. Neste sentido, passa a ser quase uma obrigação no Brasil a disputa à reeleição no Brasil. Então, eu só trabalho com um cenário para 2014: é a hipótese da reeleição da Dilma. Claro que é muito cedo para falar nisso porque a tarefa dela agora é fazer um bom governo. 

iG: Então o senhor descarta Lula em 2014?

JD: É que é o cenário natural (a Dilma). Mas não vou ficar fazendo previsões para daqui a quatro anos. Lula, com certeza, terá participação política importante nestes próximos anos e eu não sei se passa pela cabeça dele concorrer a qualquer cargo. A disputa de eleições é hipótese que está no horizonte de qualquer político, mas não sei se está na cabeça dele. Mas eu insisto: em relação à Presidência, o nome natural acho que é o nome da Dilma.

iG: O senhor concorda com o ex-ministro José Dirceu, de que a eleição de Dilma era mais importante que a eleição do Lula porque representava o projeto do PT no poder?JD: De jeito nenhum. Não há ninguém que represente e personifique de forma mais clara o projeto do PT que o Lula. A questão da eleição ser mais importante para o PT é porque era uma eleição mais difícil. A eleição da Dilma adquire importância maior porque foi mais difícil, mas não por projetos. 

iG: O senhor achou em algum momento que fosse perder a eleição?
JD: Olha, quando começamos a campanha, na época em que todos os analistas diziam que seria impossível ganhar a eleição, ela não ia andar com as próprias pernas -- enfim, os jornais estão cheio de previsões do futuro que apontavam para uma derrota. Nós sempre dizíamos que seria uma eleição difícil, mas que tínhamos chances de ganhar. Eu já disse que houve um certo sapato alto no início do primeiro turno. Mas se for pensar no momento que eu achei que iríamos perder, teve um momento: uma semana depois do primeiro turno quando nosso tracking dava cinco pontos de vantagem, confesso que deu um certo frio na espinha. Mas passou rápido e só serviu para gente engajar mais.

iG: E o momento mais difícil? Foi a queda de Erenice Guerra, que substituiu Dilma na Casa Civil?JD: Para mim foi já no começo do segundo turno. Lógico que no primeiro turno houve alguns momentos que significavam preocupação, a própria Erenice, a campanha obscura -- até hoje não temos dimensão do que teve mais peso, se foi a questão de Erenice ou religiosa. Mas, para mim, foi essa questão de segundo turno por questão objetiva. Como se criou uma situação de que o José Serra não chegaria ao segundo turno, quando se chega, dá um gás para quem achou que não ia chegar e perplexidade e bate-cabeça do lado de quem achou que fosse ganhar no primeiro turno. 
Foto: Agência Estado Ampliar
Expulso em 2005, no auge da crise do mensalão, Delúbio tentou voltar ao PT no fim de 2009
iG: O PT assumiu a dívida de R$ 27 milhões da campanha de Dilma. Vai dar para pagar até junho?JD: Nós programamos um ano para pagar a dívida. Quando o diretório assume a dívida, você precisa estabelecer programação do pagamento da dívida. Vamos correr atrás até porque ano que vem tem mais eleição. 

iG: Este ano pode ser o ano de retorno ao partido de alguns nomes envolvidos no mensalão, como Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT?JD: Houve um pedido do Delúbio de volta ao PT no final de 2009. Depois, o próprio Delúbio resolveu retirar o pedido. Já naquela época, ele disse que, em algum momento, iria pedir a filiação novamente. Se isso acontecer, Diretório terá de analisar com toda tranquilidade, até porque não existe pena eterna. Então, o Diretório irá analisar à luz do seu pedido. Este não é um tema traumático para o partido. Qualquer filiado que tenha sido excluído do quadro do partido tem direito de pedir sua filiação e o Diretório vai analisar.

iG: O senhor diz que não é uma questão traumática para o partido, mas o mensalão foi uma questão traumática para o governo e para o próprio PT. Como presidente do PT, qual é a sua posição sobre a volta de Delúbio para o partido?JD: Sem dúvida, foi um momento de crise. Não me cabe ainda como presidente do PT emitir opinião sobre pedido de volta até porque terei de me manifestar quando votar, então não me cabe antecipar minha opinião sobre este assunto. O que posso garantir é que o que o diretório definir será posição definida por mim. 

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