segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Política

O deputado federal eleito pelo PT, Nelson Pellegrino, fala da sua, quase certa, candidatura a prefeito de Salvador em 2012, da formação do governo Dilma e dos seus 50 anos que serão completados no próximo dia 27

P.A InDoOr
Crédito: Maiana Marques/ BN
Nelson Pellegrino
Nelson Pellegrino
Por Evilásio Júnior e Rafael Rodrigues /Bahia Notícias
Bahia Notícias: Este mês de dezembro você completa 50 anos de vida. Um político experiente e experimentado que dá pra perceber ao analisar o resultado da última eleição, onde você teve 202.798 votos na Bahia e em Salvador 83.118. Uma votação expressiva, mas ainda assim ficou atrás de ACM Neto. Aos 50 anos com esses resultados, você se sente preparado para ser candidato a prefeito da cidade de Salvador?
Nelson Pellegrino: É importante ressaltar que ACM Neto tinha três vantagens em relação a mim. Primeiro, ele tinha as recordações de candidato a prefeito, segundo, ele jogou solto no terreno da direita, não tinha ninguém pra concorrer com ele em Salvador e terceiro ele teve a ajuda de Maria Luiza, e Geddel  que foi candidato ao governo. Ai você tem que consumar a minha votação, com a da turma do PV, a turma da esquerda e o pessoal do governo, ai nesse caso da cinco para um. Então por isso eu acho que nós somos hegemônicos em Salvador. As forças de esquerda, as forças que acompanham a base do governo são maioria na cidade, e tem grandes chances de fazer o prefeito de 2012. Basta elas terem capacidade de eleger um nome, ter uma estratégia e se entender.
BN: ACM Neto teve o recal da candidatura a prefeito, Geddel teve como “cartão postal” a sua atuação no ministério. O que você fez no cenário político para que o eleitor saiba qual é o seu cartão postal?
NP: Eu sou o candidato que tem mais emendas individuais na cidade, que mais tem intervenção na cidade, como deputado todas as minhas ações foram voltada para cidade, e como secretário de Justiça também procurei ajudar SSA, além da minha trajetória e militância que tem uma repercussão boa na cidade, mas eu faço parte de um projeto, e é isso que eu quero. A partir do ano que vem eu quero lançar um desafio, quero reunir as cabeças pensantes dessa cidade para pensarmos em um projeto estratégico para Salvador. Essa será minha principal tarefa a partir de janeiro de 2011.
BN: Agora nós estamos vendo um movimento de aproximação do atual prefeito João Henrique com o governador Jaques Wagner, até mesmo por meio do Partido Verde (PV), conseguiu tirar o grande opositor de Wagner da Assembeia que era João Carlos Bacelar, e a gente percebe que ele realmente tenta chegar no governador. Você não teme em o PT decidir que você seja o candidato do partido a prefeito em 2012 e sair com a pecha do candidato de João Henrique na sua campanha?
NP: Eu acho pouco provável. JH foi eleito em 2008 com apoio do PMDB e do DEM, inclusive o próprio PMDB tem participação nesse governo. O que eu tenho definido internamento dentro do PT e que eu acho que é um consenso dentro do partido, é que o governo precisa dar a mão à cidade. Nunca se recusou a dar, isso é importante deixar ressaltado. Apenas quando JH foi “capturado” pelo PMDB, e o partido começou a nutrir um projeto de disputa em 2010, eles começaram a dificultar a relação do município com o estado. Isso foi prejudicial ao município acima de tudo. Então quando esse obstáculo é removido, nós temos um caminho aberto para estabelecer essa parceria entre estado e cidade, que é nisso que nós temos que apostar. Ele não deve participar com cargo do governo, eu mesmo já disse isso a ele, mas nós temos que dar a mão para a cidade, essa parceria só tende a trazer melhorias. Porque na saúde, na educação, no PAC, na Copa, vai destravar e nós vamos poder deslanchar alguns projetos que não aconteceram por causa da “trava” imposta pelo PMDB.
BN: É notório que a prefeitura passa por uma crise financeira grave em todas as secretarias. Inegável. Diversos atrasos nos repasses de verbas, atraso e ou não pagamento de salários. Imbassahy passou oito anos e reclamou, JH que está ai agora também reclama da baixa capacidade de arrecadação da prefeitura. O que você propõe de diferente dos prefeitos que Salvador já teve, para que o município possa aumentar essa arrecadação? Qual é a forma que se tem para solucionar os problemas de Salvador?       
NP: Primeiro eu queria dizer que há um mérito dessa atual administração porque ela resolveu enfrentar essa discussão do financeiro da cidade. Foi feito até uma mini reforma tributária. Mas uma queixa que eu tenho, é que se aproveitou pouco o fato de JH ter governado durante 6 anos com Lula e 4 com JW, acho que foi feito pouco uso dessas oportunidades que se abriram nos dois governos que eram parceiros e que tinham a prioridade de ajudar os municípios. Porém eu lembrei outro dia do que nós propomos na campanha de 2004. Eu como candidato e JH que incorporou o meu programa. Dizíamos que o município tinha uma dívida inativa muito grande, e não conseguia transformar isso em ativo. Que o município precisava renegociar seus contratos todos, inclusive contratos de terceiros e reduzir custos. Só que isso não foi feito. Pelo contrário, volta e meia a gente vê uma crise, principalmente com as empresas terceirizadas. Agora mesmo mais uma vez a prefeitura vai ter que reduzir o número desses funcionários. E o município tinha como melhorar o seu financiamento através de mecanismos como Sepacs e Transcons que no meu ponto de vista foram muito mal utilizados. Só de Transcons estima-se que foram gastos R$ 500 mi. Esse valor para uma cidade como Salvador dá pra fazer muita coisa. Dá pra fazer viadutos e resolver o problema de uma determinada região, resolver o problema de portabilidade, da pra fazer macrodrenagem... Enfim, dá pra fazer muita coisa. Além do que, uma reforma tributária é importante para exonerar quem não pode pagar e receber mais contribuições daqueles que podem financiar a cidade. Mas é preciso que haja um diálogo, para que o município participe desse esforço que está sendo feito para ele. Então eu diria que é preciso combinar todos esses fatores, junto com outras soluções criativas e a gente pode de uma certa forma melhorar. Por exemplo, eu achei um grande erro quando Saturnino disse que o Rio de Janeiro estava falido, administração pública não fale. Empresas privadas falem, administração pública pode dever, mas nunca vai falir, e o próprio Cesar Maia mostrou que era possível recuperar financeiramente um município, e acabou recuperando. Portanto eu penso que Salvador é um município viável, se tivermos um conjunto de iniciativas e um governo com credibilidade, fundamentado, em parceria com a sociedade para poder viabilizar isso. Mas não vamos criar uma visão de que em quatro anos vamos resolver tudo, mas essa é uma observação que eu faço com a atual administração. Isso eu aprendi como líder do primeiro ano de governo do presidente Lula. Para poder fazer um bom governo nós temos que ter três coisas: um projeto estratégico, equipe e gente com capacidade de decisão. Eu acho que pouco se fez nesses últimos oito anos em termos de planejamento estratégico dessa cidade. Então o que se tem como planejamento para o trânsito de Salvador hoje? Nada. O que nós temos de planejamento estratégico para dar mobilidade em SSA? Muito pouco. O metrô está ai com seis quilômetros e não consegue nem chegar ao acesso Norte. O governo do estado que agora está chamando pra si essa tarefa de pensar em mobilidade. É o trem metropolitano que vai sair da Calçada e vai chegar até Alagoinhas, o veículo sobre rodas... Então eu acho que é essa perspectiva estratégica que falta em SSA. Por exemplo, Lula deu um “carão” essa semana nos prefeitos durante o lançamento do PAC 2. Qual a critica central dele? Que os prefeitos não têm projetos. Quem se deu bem no PAC 1? As prefeituras que tinham projetos executivos. Esses projetos são caros, às vezes chega a custar 10% do valor da obra. Mas tem que ser feito. Salvador tem uma capacidade enorme de endividamento, mas não tem de pagamento, eu mesmo já falei isso algumas vezes. Nós temos várias soluções para deixar a cidade novamente sem dívidas, mas precisa-se de planejamento e tempo.
BN: Várias denúncias já foram feitas contra o governo. Um exemplo disso foi a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Transcons, e há pouco tempo também solicitaram uma comissão para as obras do metrô que acabou não saindo. São alguns pontos que acabam sendo “tocantes” da administração e ainda há muita dúvida. Caso você realmente seja prefeito, você tem objetivos de deixar transparecer ao povo o que foi feito com o dinheiro deles?
NP: Veja bem, eu acho que isso ai não é um problema da administração de JH, é um problema que vem de tempos. Por exemplo, era pra se cultuar em SSA o não pagamento do IPTU. Chegou-se até, na administração de Fernando José, a ter uma audiência civil para não se pagar o IPTU. Isso é um problema, mas como é que se resolve esse tipo de questão, com reuniões do conselho da cidade. Você dá a órgãos que possam abrir e discutir de forma transparente, e estabelecer como é que essa contra partida e essa negociação se estabelecem.
BN: E o metrô?
NP: O primeiro problema do metrô é que ele nunca foi administrado pela prefeitura. Alias a prefeitura efetivamente começou meio esquisita, porque na campanha de 1996 ACM prometeu que ia fazer o metrô pra poder eleger Imbassahy. Quando chegou às vésperas da eleição de 2000 que não tinha nada, eles pegaram um projeto desatualizado, e conseguiram o dinheiro do governo federal para poder tocar. Então para “parecer” que era a prefeitura que estava fazendo, eles colocaram nas mãos da empresa TMS, onde tinha uma participação de 70% do governo federal, 20% do governo estadual e 10% do município, que era quase nada. Mas ai deram a administração “da coisa” para o município. Além disso, ainda teria uma participação privada, que ia financiar os trens. E ai ficou como se fosse o município responsável pela administração, mas quem sempre administrou essas obras foram as empreiteiras. Elas faziam e desfaziam e se articulavam. Esse foi o primeiro problema, o município nunca teve governabilidade sobre essa obra. Segundo, o metrô por ter uma estratégia errada, só foi acumulando insucessos e problemas. Então agora é preciso repensar. E tem uma coisa que eu já dizia há seis anos e criticava, eram os problemas das tarifas. Ai me diziam que eu queria antecipar as coisas, mas eu sabia que a tarifa era um quesito inviabilizador. Eu trouxe João Luis, o presidente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) para fazer um seminário aqui, e dissemos que tinha que fazer o modelo de transporte de Recife, que é o melhor que tem.  Lá há integração entre metrôs, ônibus e trens. Ai você viabiliza, é o que tem que fazer aqui. Fazer o trem da Calçada chegar até Camaçari, Simões Filho e por ai vai.
BN: Você já se coloca como pré-candidato do partido a prefeito. Até lá você aceitaria voltar a ser secretário de Wagner ou você vai exercer seu mandato na câmara até 2012?
 
NP: 
Em qualquer que seja a opção eu vou procurar construir uma alternativa do PT e das forças aliadas do governo para SSA. Seja como deputado ou como secretário. Estive conversando com o governador o que é melhor para o estado se será minha permanência na secretaria ou ir para câmara... Mas seja de uma forma ou de outra eu continuo sendo deputado federal, servindo aos municípios junto com os prefeitos, trabalhando pela Bahia. E se for secretário pela mesma forma, não serei secretário de SSA, mas sim componente de uma determinada pasta do governo liderado por JW.
BN: Embora seja um ato comum no Brasil você não acha que seria uma traição ao eleitor você aceitar o convite para ser secretário ou no meio do caminho deixar a câmara para concorrer a prefeito?
NP: Eu penso que não. Porque antes de ser secretário de justiça eu trabalhei dentro das minhas possibilidades para Bahia toda. Eu fui o primeiro secretário a levar o Procon para bairros depois de 11 anos. Fiz um em Cajazeiras, um na Liberdade, em Periperi também. Fora os municípios. Fiz um plano de prevenção às drogas, que hoje é modelo no país inteiro. Fiz política estratégica em relação aos índios, às pessoas idosas. Montei um plano estratégico com relação à questão prisional. Estive na coordenação do Pronasci junto com o secretário César Nunes, e também apresentei emendas parlamentares que estão sendo executadas nos municípios. Por exemplo, esse ano eu já apresentei emendas que vão chegar aos municípios em 2011. Portanto, eu não acho que seja traição. O eleitor sabe que nós somos políticos e que estamos ali para servir, independente do cargo. O que o povo não aceita é que nós não estejamos servindo.
BN: Você se coloca muito como pré candidato a prefeito de Salvador, você acredita que agora, a dois anos da campanha já há um consenso entre os outros componentes do partido?
NP: Eu estou muito tranquilo em relação a isso. Nós temos muitos nomes de valores. Eu exponho o meu sonho e a minha paixão por essa cidade. Se eu quisesse ser prefeito de Camaçari, por exemplo, eu poderia, porque com a quantidade votos que eu já tive certamente lá eu me elegeria. Mas eu sou apaixonado por essa cidade. Por isso o sonho de ser prefeito de SSA. Maria Brandão me disse uma vez, que para ser um bom prefeito, tem que gostar muito da cidade. E eu gosto dessa cidade, eu gosto dessas pessoas. Eu não acredito em unanimidade, nem Jesus Cristo que era filho do Homem teve unanimidade, mas teremos que estabelecer um consenso majoritário e se não for possível, que seja alguém responsável para fazer o melhor. Ao tempo definido nós vamos saber de quem será a candidatura ideal do partido. Quando eu abrir mão do meu pleito para ser candidato ao senado na última eleição, acabei identificando que aquele processo de disputa de 2008 não foi bom nem pra mim nem pra (Walter) Pinheiro. Então eu acho que o partido tem que ter mais maturidade, tem que saber quem de fato é a melhor opção.
BN: O presidente Lula já falou algumas vezes em deixar o mandato de cinco anos e suspender a reeleição. Você estará em breve na disputa de uma vaga para o executivo. Você acredita que essa medida poderá melhorar a política brasileira de alguma forma?
NP: Eu acho quatro anos pouco, não sei se cinco também... Agora um mandato de seis anos para prefeito é muito tempo. Eu não acho que a reeleição seja uma forma ruim não, eu acho que é um plebiscito no meio de um mandato de oito anos. Eu acho que a capacidade de resposta que a administração pública tem hoje, um mandato de quatro anos é pouco. O primeiro ano é para você colocar ordem na casa e começar a planejar. O segundo ano é para tentar fazer as coisas acontecer, e então os fatos só chegam mesmo no terceiro e no quarto ano. Hoje você tem projeto que começa a pensar, mas ele só vai acontecer quatro anos depois. A ferrovia Oeste-Leste é um bom exemplo, primeiro fez-se a discussão do projeto, depois a criação do projeto executivo, a licitação da obra, para depois começar a construção de fato. Nisso ai foram três a quatro anos. Por isso eu acho que quatro anos é pouco.            
BN: Você falou que a parceria com JH está encaminhada, o governo do estado e o município em parceria, o que não significa uma aliança política. Apesar disso vai ter que ter uma recondução dos vereadores na câmara. Como fazer já que o PT municipal tem uma oposição tão forte à JH para acalmar um pouco os ânimos, ou não será necessário, eles terão liberdade para fazer a oposição que eles têm feito?
NP: Eu penso que a gente deve na câmara ter uma postura pró ativa de apoiar as coisas que são positivas para cidade, mas ter independência também para quando não concordar, explicitar ao prefeito que não concordamos em determinadas ações.
BN: Mas então vai precisar fazer uma oposição dura?       
NP: Eu não acho que o PT fez uma oposição dura. Fez o que achou correto fazer. Mas teve o momento que houve um acirramento por força da condução do grupo que Geddel dava ao município, isso criou travas na relação com o governo do Estado, que acredito que só tenham prejudicado o município. Mas eu acredito que essas travas estejam removidas. Eu penso que assim é melhor para cidade. Acredito que esse também seja o pensamento do governador.
BN: Nessa perspectiva de colocar nome do senhor a prefeito de SSA, se houvesse a possibilidade de você ser ministro do governo Dilma, você aceitaria?
NP: Bem, eu até levei uma desvantagem nessa composição ministerial porque meu nome foi de certa forma afastado em função de 2012. Mas eu estou muito tranqüilo em relação a isso, eu vou ajudar a cidade. Ou como deputado, ou como secretário. Poderia ajudar também como ministro...
BN: Você está acompanhando a composição ministerial lá em Brasília, e frequentemente se fala sobre a disputa de cargos PT e PMDB, e a criação do o blocão da esquerda com a direita. Como você relaciona a junção do PT com o PMBD no governo Dilma?
NP: Vai ser como foi no governo de Lula. Quando eu fui líder do PT eu defendi que deveria sim fazer uma aliança institucional com o PMDB, mesmo sabendo que como era do PMDB não viria, como não veio mesmo na época em que apoiavam Fernando Henrique. Tinha 30% do partido que não apoiava. Eu acho que tem que haver relações institucionais entre os partidos e a partir daí construir uma base de governabilidade.  A presidente Dilma, tem características diferenciadas em relação ao presidente Lula. Principalmente nos primeiros anos de governo, que vai ser a afirmação política dela, o congresso vai ter um papel de articulações políticas maior, do que teve no governo de Lula. Então eu acho que a consolidação na base é muito importante, e eu não tenho dúvida que esse processo será conduzido onde todos os partidos serão contemplados no ministério. Dilma terá uma base mais sólida, principalmente no senado, que deu muita dor de cabeça pra Lula. Portanto não acho que esse bloco do PMDB com os outros partidos aliados vingará como também acho que esse bloco da oposição com a esquerda não vai a lugar algum.
BN: Seu aniversário é dia 27 de dezembro, Lula parece o Bom Velhinho, o PT é vermelho você quer de Papai Noel esse ano?
NP: Ahh, o que ele tem me dado a vida inteira. Ah, o Papai Noel “PT”? Que ele me dê essa oportunidade da gente construir um bom projeto para essa cidade. Que essa bela Salvador possa ter todas as suas potencialidades despertadas, como Lula despertou as potencialidades do Brasil.

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